sábado, maio 06, 2023

Mensagens da Mensagem de Pessoa

Oi, gente!

Vocês sabem que sou estudante de Letras. Como tal, boa parte de meus estudos é, inevitavelmente, composto por Literatura. Assim, estudando para uma prova de Literatura Portuguesa, deparei-me com o livro Mensagem, de Fernando Pessoa – um dos maiores poetas portugueses e o maior expoente da Literatura Modernista Portuguesa.

Composto de várias subdivisões, o livro tem forte teor nacionalista, sendo comparado por literatos a uma recriação fragmentada – uma desleitura - de Os Lusíadas.

Contudo, para além da retratação de Portugal a partir de um passado glorioso, do desalento presente e da esperança de triunfo futuro, essa coletânea de poemas assinada com o ortônimo pessoano traz-nos reflexões universais – por isso mesmo são literárias.

Assim, elenco alguns poemas que nos podem ser de grande valia, principalmente em momentos difíceis, já que a escrita pessoana parte de uma perspectiva presente à época (século XX) de decadência.

O DAS QUINAS

Os Deuses vendem quando dão.

Compra-se a glória com desgraça.

Ai dos felizes, porque são

Só o que passa!

Baste a quem basta o que lhe basta

O bastante de lhe bastar!

A vida é breve, a alma é vasta:

Ter é tardar.

Foi com desgraça e com vileza

Que Deus ao Cristo definiu:

Assim o opôs à Natureza

E Filho o ungiu.

Participante da primeira parte da primeira parte (é isso aí), ou seja, de Os Campos dentro de Brasão, esse poema alude, em seu título, às chagas de Cristo (5 feridas, uma em cada mão, uma em cada pé e uma no peito).

A força do Cristianismo em Portugal é bastante intensa e, praticamente em todos os poemas, aparece uma associação do tema português tratado à figura de Jesus ou de Maria.

O que interessa para este blog, no entanto, são os lembretes da primeira e da segunda estrofe: a glória perene vem com e após o sofrimento (“Compra-se a glória com desgraça”), a felicidade é fugaz (“Ai dos felizes, porque são / Só o que passa!”, o tempo voa (“A vida é breve”)e somos mais do que podemos imaginar (“a alma é vasta”).

HORIZONTE

Ó mar anterior a nós, teus medos

Tinham coral e praias e arvoredos.

Desvendadas a noite e a cerração,

As tormentas passadas e o mistério,

Abria em flor o Longe, e o Sul sidério

‘Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa —

Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta

Em árvores onde o Longe nada tinha;

Mais perto, abre-se a terra em sons e cores;

E, no desembarcar, há aves, flores,

Onde era só, de longe a abstrata linha.

O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esp’rança e da vontade,

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —

Os beijos merecidos da Verdade.

Poema II da segunda parte do livro (Mar Português), remete à descoberta portuguesa de que a linha do horizonte não era o fim do mundo. De fato, o que não nos parece acessível não é, ainda assim, o fim do mundo.

Esses versos fazem-nos recordar o potencial da esperança, proveniente da crença e da vontade, surgidas em meio à escuridão, que nos permitem desanuviar nossa visão.

D. SEBASTIÃO

Sperai! Caí no areal e na hora adversa

Que Deus concede aos seus

Para o intervalo em que esteja a alma imersa

Em sonhos que são Deus.

Que importa o areal e a morte e a desventura

Se com Deus me guardei?

É O que eu me sonhei que eterno dura,

É Esse que regressarei.

Essa é uma espécie de resposta ao primeiro poema supracitado, unida à esperança do segundo. Na verdade, ele é um exemplar da primeira parte da terceira e última parte do livro (respira fundo e lê de novo, rsrs), ou seja, pertence à separação intitulada Os Símbolos, a qual se encontra na parte de nome O Encoberto.

Conclusão

E aí, gente, curtiram esses exemplares de Fernando Pessoa? Com que outros poemas podemos identificar-nos e aprender? Descobriremos em futuros posts! ❤️

2 comentários:

  1. Ao ler o 3º poema pude obsservar que Deus é visto como um sonho, algo que está dentro do ser. O que leva a reflexão, da escencia da deusificação que fazemos de fatos atos e pessoas.

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