sábado, abril 15, 2023

A Fera na Selva e a agonia da espera

Introdução

Não, esse livro do qual quero falar hoje nada tem a ver com a Ditadura Militar Brasileira. A parte da canção acima que se relaciona com o conteúdo da obra discutida é o refrão:

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”

A boa literatura é universal e imperecível, ou seja, aquela que, contando sobre uma história ficcional ou alheia e real, é capaz de tocar-nos e fazer-nos refletir sobre nossas próprias vidas. De fato, após lermos essa novela do pré-modernista Henry James, já não somos os mesmos.

Meu texto será reticente porque, realmente, a ideia é incentivar meu leitor à conferência do clássico.

Sinopse

Capa de A Fera na Selva
Divulgação / Amazon

A sinopse escolhida é gigante, mas a obra é pequenininha. De acordo com a Amazon:

Em A fera na selva – mais um título da coleção Novelas Imortais, idealizada por Fernando Sabino [...] –, o renomado escritor inglês Henry James compôs uma obra-prima da literatura universal, fascinante e terrível ao mesmo tempo. “Uma fera emboscada na selva, pronta a saltar sobre ele a qualquer momento.”

Essa era a sensação que John Marcher carregava desde que nasceu, e que – depois de anos ele viria a descobrir – era um segredo compartilhado por mais uma única pessoa, May Bartram.

O encontro inesperado em Weatherend, e o fato de ela saber sobre o acontecimento que o espreitava, conduziu uma atraente ligação entre eles, multiplicando-se em encontros cada vez mais reveladores.

Por vários anos, John Marcher acreditou guardar discretamente a sua “carga pesada”, sem jamais tocar no assunto, para que os outros não ficassem tão assombrados quanto ele sempre esteve. Se o resto do mundo o considerava esquisito, somente May Bartram sabia como e, acima de tudo, por que esquisito. Uma coisa os uniu sem que eles soubessem.

Enquanto envelheciam juntos, John e May mantinham uma relação de amizade e fidelidade que se tornara indispensável, à espera vigilante de que uma coisa extraordinária acontecesse. Na obra, passado, presente e futuro são entrelaçados em uma trama articulada e envolta de mistérios, sob uma narrativa psicológica.

De fato, alguma coisa tinha estado para acontecer, e o que vinha a ser a Fera na Selva poderia representar algo aterrorizador, porém de um destino comum e inevitável.

O orgulho cega

John Marcher achava que sabia “o quê”, embora não soubesse “quando”. Seu clássico pensamento girava em torno de frases como “se... eu já estaria em tempo de saber.”. Porém, de nada ele sabia.

Apenas a doce amiga Bartram guardava para si a plena verdade, permitindo inerte que o destino se cumprisse sem interferências. Meiga amiga, ainda que seu próprio orgulho a impedisse de enxergar as oportunidades de esclarecer seu predestinado amigo e transformar-lhe a vida. E sua própria vida de eterna espera.

Espera x esperança e medo

Essa é mais uma música da qual a obra de Henry James faz-me lembrar. John vivia preocupado com seu futuro – com medo de sentir medo -, crendo-se refém de seu fado, poupando-se para ele e sentindo-se sem direitos a desejar algo ordinário.

Por isso, não se permitiu aprofundar nos questionamentos comuns que May fazia-lhe, dos quais poderia extrair alguma(s) resposta(s). Por isso, não teve a oportunidade de conhecer e empregar adequadamente o que tinha e o que podia e esqueceu-se dessa forte lição de seu autor:

"Trabalhamos no escuro - fazemos o que podemos - damos o que temos. Nossa dúvida é nossa paixão e nossa paixão é o nosso dever. O resto é a loucura da arte."

O medo e a esperança – uma espera ativa, na qual o espectador atua e transforma – fazem parte da vida e, sem eles, a vida perde o sentido e a existência.

Conclusão

É, o texto de hoje é tão curto quanto a leitura proposta por ele. Confesso que passei essa semana sem muita inspiração para um vocabulário prolífico e, talvez, prolixo, mas não queria deixar esse sábado pós-páscoa sem escrita e, mais do que isso: desde que criei o blog, essa era uma das obras que eu queria sugerir.

Espero que a leitura atenta dessa criação jamesiana leve você a um contato cada vez mais profundo consigo mesmo(a).

Aos leitores que têm acompanhado meus posts semanais: muito obrigada! Sei que ainda estou devendo atender a algumas sugestões de filmes e séries a incluir nas minhas análises e serão adicionadas gradativamente nas próximas semanas.

Até o próximo sábado, às 19:00!

5 comentários:

  1. Este título me fez recordar o começo do livro Inferno, da trilogia A Divina Comédia do famijerado Dante Ariguiere. Guardarei essa sujestão, aproveitando para sujerir a série fixional e romântica Os Imortais a priori para leitura, porém quem sabe para uma análise.

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  2. Maria Desirée Diniz Miranda2 de maio de 2023 às 19:34

    Que comentários ricos! Encantada com o conteúdo disponibilizado por essa jovem blogueira. Parabéns! Já anotei o nome do livro para lê-lo. Aguardo a próxima postagem!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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