sábado, fevereiro 25, 2023

Steins;Gate 0: Hiyajo e a superação do mal interior

Introduçã

Salve, salve!

Mais uma vez, venho falar de animes, dessa vez por indicação de um amigo que vem-me acompanhando e revisando meus textos. Foi também por sugestão dele que eu assistira à obra há alguns anos. Na verdade, essa trama dá muito pano pra manga, principalmente considerando o complexo protagonista. Porém, resolvi falar de algo bem mais simples, porém essencial (talvez realmente por ser simples).

Maho Hiyajo é só mais uma coadjuvante na saga insana de Okabe Rintarō e isso, infelizmente, pode ofuscar a importância da mensagem que ela trás para o ser humano que lhe assiste. E é por esse tipo de reflexão que passa batida e que pode ter tanta relevância para nosso crescimento interior que eu criei esse blog.

Okabe chama atenção por sua excentricidade; Hiyajo cativa por sua ordinária humanidade.

Para quem não conhece coisa alguma do enredo de Steins;Gate

Capa de Steins;Gate 0

O anime é baseado num jogo com o mesmo nome e sua primeira temporada foi lançada em 2011. Sua sinopse, extraída do Filmow, é a seguinte:

Steins;Gate é sobre um grupo de amigos que personalizaram seus microondas num dispositivo que pode enviar mensagens de texto para o passado. Como eles realizam experiências diferentes, uma organização chamada Sern que vem a fazer sua própria pesquisa sobre viagem no tempo descobre sobre o grupo e agora os personagens têm de encontrar uma maneira de não serem capturados.

A segunda temporada – na qual aparece a personagem analisada -, intitulada Steins;Gate 0, foi lançada em 2018 e mostra uma diferente possibilidade para o final de Okarim e seus amigos, ou seja, o que aconteceria se as escolhas tomadas por eles fossem diferentes.

As experiências com viagem no tempo, a princípio despretensiosas, levam a acontecimentos trágicos e Okabe imagina uma linha do tempo ideal, o Steins;gate; no entanto, até conseguir chegar lá, ele precisa optar pela vida de apenas uma das duas pessoas que lhe são mais preciosas:

no primeiro anime, focado na linha alfa, Rintarō abre mão de sua melhor amiga, a meiga Shiina Mayuri; no segundo, há um enfoque na linha beta, na qual o protagonista desiste de salvar sua crush, a brilhante cientista Makise Kurisu. 

Saiba mais: dica de ordem para ver Steins;Gate

Mas quem é Maho Hiyajo?

foto / desenho de Hiyajo
Divulgação / Wiki - Fandom

Ela é uma cientista que estudava e trabalhava com Kurisu antes da morte desta. Ela apresenta, com seu professor, um seminário sobre inteligência artificial na universidade de Okabe e lá o conhece. A referida apresentação acadêmica revela algo inédito ao mundo: Amadeus, uma IA que tem incríveis semelhanças com as pessoas reais que representa, graças às memórias que delas armazena.

E uma dessas pessoas cujas lembranças foram convertidas em dados é Kurisu. Como antigo amigo de Kurisu, Rintarō é convidado a interagir com a IA e, devido à supervisão de Hiyajo durante os testes, nasce entre eles uma verdadeira amizade.

Hiyajo x Kurisu, Salieri x Mozart

Amadeus Mozart x Salieri
Divulgação / A Redação

Até o episódio 9, conhecemos Hiyajo apenas pelas implicâncias que lhe fazem devido a sua baixa estatura, sua desorganização e seus modos arredios.

É no episódio 10, então, que ela permite ao telespectador e a Okabe conhecerem, como ela diz um pouco mais de seus tormentos íntimos – ou “uma vida transformada num inferno”, como ela diz -, comparando-os às rixas entre Mozart e Salieri.

A rivalidade entre esses músicos foi, na verdade, mais de boatos que de fatos, conforme explica esse artigo da Superinteressante, detalha esse artigo do blog Pianissimo e completa esse último de A Redação.

Embora Kurisu fosse sua aprendiz, Hiyajo nutre por ela e por seu legado sentimentos confusos: ao mesmo tempo que os respeita e admira, encara-a como sua rival. De fato, um espectador atento percebe que, ao longo dos episódios, Hiyajo tenta disfarçar sua inveja e sua raiva com um jeito carinhoso de falar com Amadeus, mas às vezes ela deixa escapar sua verdadeira face interior.

Indiretamente, usando a narrativa contada pelo filme de Mozart e Salieri, ela admite que se preocupou demais com o futuro de Kurisu, com até onde esta poderia chegar, e esqueceu-se de seu próprio futuro, vivendo em função da inveja e da missão inútil e imposta por si mesma de igualar-se a sua aprendiz em vez de construir seu próprio caminho.

A baixa autoestima

Ainda no episódio 10, ao tentar consolar Kiryu Moeka – uma das aliadas de Okabe nessa linha de universo -, que acredita não ter nada de especial e ser totalmente substituível, Hiyajo diz-lhe:

"Isso não é verdade! Não existe ninguém igual a você. Você não pode- se menosprezar assim! Viver-se comparando com os outros, se sentindo inferior a eles, é algo muito...”...

Ela para ao perceber que age igual a Moeka e, por isso, sabe bem como esta se sente, mas não pode motivá-la se não consegue sair do próprio complexo de inferioridade em que se enfiou. Afinal, ninguém sente inveja ou orgulho destrutivo quando está bem consigo mesmo.

Com efeito, sabemos pouco sobre Kiryu e sua aparição naquele momento é mais uma forma que o autor (e a vida) usa para que a personagem (e nós mesmos) veja sua situação pelo lado de fora e confronte a si mesma.

A luta contra o mal interior

Hiyajo e a versão Amadeus de Kurisu
Divulgação / Amino

Ainda no episódio 10, ao passear com Okabe e com Amadeus, Hiyajo encontra uma daquelas máquinas em que se põem moedas para conseguir bichinhos de pelúcia e esforça-se para conseguir um deles. Okabe consegue pegá-lo para ela e ela lhe diz que, na verdade, a pelúcia não é para si:

a senhorita Makise tinha esse mesmo bichinho antes de falecer e ele ficou decorando seu quarto após sua morte, mas foi queimado em um incêndio e Hiyajo quer dar um novo de presente à mãe de Kurisu.

Além disso, no episódio 11, o notebook de Kurisu – que contém avanços científicos importantes e, por causa da ambição de organizações poderosas, perigosos para a humanidade – é capturado. Antes disso, porém, Hiyajo luta para mantê-lo consigo; tanto que sobra um pedaço do aparelho em sua mão.

Okabe comentara com ela que o mal uso das descobertas de Kurisu poderia manchar a memória desta e, ao falhar em manter o notebook seguro, Hiyajo chora sinceramente e pede perdão à memória de Kurisu.

Dessa forma, vemos que, por meio de boas atitudes, Hiyajo tenta esquecer de seus próprios desejos egoístas e age em favor de Kurisu e daqueles que a amam. Assim, ela não se rende aos impulsos do pecado, mas luta bravamente contra eles e, ainda que seja um processo longo e doloroso, quase imperceptível para ela, escala em busca da paz com sua história e com aqueles que a cercam.

A cegueira do pecado x a confissão

Ao sentir-se frustrada por ter o notebook roubado de suas mãos, Hiyajo admite que já desonrara a memória de Kurisu ao abrir seu notebook. Ela pensava que Kurisu desejaria que seu legado fosse continuado, mas agora compreende:

 "[...] eu percebi que só tava frustrada. Eu só queria iniciar ele pra provar que eu conseguia, pra provar que eu era capaz. [...] Mozart nunca perdeu um segundo se preocupando com Salieri. Ele apenas se dedicava a fazer composições brilhantes.”.

A inveja dá lugar ao orgulho ou mistura-se com ele

No episódio 14, ao ser convidada pelos amigos de Okabe a construir uma nova máquina pula-tempo, ela pensa inicialmente que não pode atingir os mesmos resultados que Kurisu. Em seguida, todavia, ela decide tentar, sem consultar o artigo de Kurisu, percorrendo o mesmo caminho que sua caloura, algo que ela já quisera antes, mas nunca tivera de fato a coragem de fazer.

Antes, ela estava tomada de uma inveja paralisante; agora, ela se enche de um orgulho que, ainda que não saudável, dá-lhe movimento e uma força que, em parte, será desperdiçada pelo próprio orgulho. Afinal, seria muito mais simples valer-se dos resultados de Kurisu para chegar a patamares ainda maiores que os conseguidos por esta.

A inteligência proveniente da humildade

É apenas no episódio 19, diante de uma grande necessidade, que Hiyajo percebe seu orgulho e, sem tempo de vida para digeri-lo, consulta os resultados de Kurisu para avançar em sua própria pesquisa.

Ao longo deste e de episódios seguintes, percebemos que Hiyajo continua insegura sobre suas capacidades, sendo necessária até mesmo a intervenção da Kurisu em forma de IA para animá-la. No entanto, suas inseguranças já não a paralisam e ela não sente mais raiva de Kurisu.

Uma vez ouvi de uma psicóloga o seguinte:

"Às vezes, a dor nunca vai embora. O importante é seguir em frente, mesmo com a dor.”.

Na verdade, quem batalha em meio ao sofrimento - seja ele qual for -, o que é extremamente difícil, tem mais mérito que aqueles que crescem na calmaria, onde tudo lhes é propício.

E como a vida de Hiyajo pode-nos servir na prática?

Para o desenvolvimento de importantes virtudes para nosso bem-estar e para um convívio saudável, sugiro a leitura dos seguintes artigos:

Seja um presente para os outros!

Tenho autoestima baixa. E agora?

Três meios para chegar à verdadeira humildade

7 passos simples e práticos para ser humilde

Onde assistir a Steins;Gate?

Gente, eu só assisti à série, ou seja, às duas temporadas. Há filmes também, mas conheço apenas esses links de download de Steins;Gate e Steins;Gate 0. Recomendo o uso de um bloqueador de anúncios para utilizá-los.

Conclusão

Chegamos ao fim do post. Mas antes de sair, responde essas perguntinhas:

• Já viu algo de Steins;Gate? Curte?

• Se não viu, ficou interessado(a)?

• Gostou dessa publicação?

• Tem algum comentário para agregar aos meus devaneios?

• Que outra obra você considera interessante para analisarmos?

Compartilha o conteúdo e continua ligado(a) aqui no blog, sempre aos sábados, às 19 horas! <3 

sábado, fevereiro 18, 2023

Berserk com spoilers: Griffith, um Cristo às avessas

Os "bests" Guts e Griffith
Divulgação / Critical Hits

Introdução

Recentemente, foi lançado anime Berserk: The Golden Age Arc (Memorial Edition), remasterização dos 3 filmes de Berserk, produzidos entre 2012 e 2013. A cultura japonesa não é meu forte – até porque o que mais se propaga no Brasil é o estilo shounen -, mas esse é o 4º anime (3º seinen) a que assisto e o primeiro que me causou real interesse por ler o mangá.

Essa obra, definitivamente, não é sequer um pouco cristã. Porém, amo conteúdos com profundo viés psicológico e personagens complexos e esse fascínio me levou a superar tabus e a raiva das “lutinhas” iniciais.

Delimitação

Para não passar a vida escrevendo – e vocês lendo -, vou reduzir nosso material de análise: de vez em quando, vou inserir alguma informação proveniente do mangá em português e de reviews, mas majoritariamente vou focar nessa última adaptação lançada, mais especificamente em sua dublagem brasileira.

Cada tradução – seja ela legenda, dublagem ou a própria adaptação - pode revelar uma nova possibilidade de leitura para o perfil psicológico dos personagens porque, antes de termos um tradutor, temos um leitor que tem suas próprias percepções. Mas isso é conversa para outro dia.

De qualquer modo, se vocês lerem em japonês e partilharem de uma visão diferente da minha – talvez em razão das diferenças linguísticas -, podem compartilhar nos comentários.

Griffith, um personagem sedutor

Griffith
Reprodução / Berserk
Griffith é, certamente, um personagem que chama a atenção de qualquer um, seja por sua beleza exterior, seja por seu carisma. Apesar de seus vários atributos positivos, o que mais me interessou em Griffith, desde o princípio, foi sua dissimulação. Que amigo do Guts que nada!

Não sei se faço essa leitura do personagem graças à quantidade de séries com megalomaníacos, narcisistas, sociopatas e psicopatas que já vi, mas Griffith não me enganou e nunca me enganará. Ah, e isso não tem a ver com spoilers: conheço gente que defende Griffith depois de tudo o que ele fez ou que, pelo menos, diz que, em algum momento, ele foi uma boa pessoa.

“Ain, mas ele queria superar sua pobreza”. Tem um monte de gente por aí superando suas barreiras financeiras – e outras – sem deixar um mar de sangue por aí. Até porque foi tudo planejado. Se Griffith realmente tivesse um resquício de boa consciência, usaria sua sagacidade para encontrar um outro meio de alcançar seu sonho.

O Eclipse

Eclipse
Divulgação / Ruslan_Gamer_RusOne19
Iludida com o Griffith ou não, porém, pessoa comum alguma poderia imaginar o Eclipse ao acompanhar o enredo. A incredulidade diante do sacrifício é uma completa demonstração de ingenuidade ou desatenção e esse tipo de arte nos deixa mais alertas. A surpresa moderada e o horror diante da obra da Mão de Deus, ao contrário, são sentimentos completamente humanos.

Analogias e distinções

E é por falar em sacrifício, divindade e humanidade que, ao assistir ao Eclipse, lembrei imediatamente a Paixão de Cristo.

Cristo é o Filho de Deus, enquanto Griffith é o dedo que falta da mão de Deus; Cristo se sacrifica, enquanto Griffith sacrifica; a Paixão de Cristo é para salvar o mundo de seus pecados, enquanto a Paixão de Griffith é por si mesmo, para salvar sua própria carcaça, para jogar mais pecados sobre si e sobre o mundo.

Em síntese, Griffith é incompletude, vazio que, ao tentar-se preencher, destrói o que lhe sobra de possibilidade de alma e torna o mundo um lugar pior, seguindo os desígnios do deus (destino, causalidade ou mal) daquele mundo; Cristo é tão cheio que transborda, cumprindo e influenciando outros a cumprirem a vontade de um Deus que é justiça e misericórdia.

Os cordeiros imolados, sacrifícios perfeitos

Em Berserk, os aliados de Griffith são sacrificados por ele, pela sua própria vontade, como prevê Slan ao dizer que Guts seria o sacrifício perfeito, tendo em vista sua amizade pelo humano que se tornava o novo demônio (ep. 11).

Cristo, ao contrário, é o sacrifício perfeito por sua própria natureza divina (Jo 1,1-5.14) e entrega-se por amor aos seus (Ef 5,2) como o Cordeiro de Deus (Jo 1,29).

Jesus morre na cruz
Divulgação / Universidade Católica Dom Bosco

Razões dos sacrifícios

No episódio 12, antes de ver seus aliados serem assassinados brutalmente, é dada a Griffith a recordação de toda a sua trajetória e dos motivos pelos quais todo o mal acontece. O telespectador percebe, então, que, embora os personagens falem constantemente sobre a causalidade, o mal já era conhecido, aceito e premeditado por Griffith muito antes.

Griffith está ferido por consequência de seus próprios atos – conforme conferimos no episódio 8 – e, para salvar-se, torna-se mandante da morte de seus subordinados.

Cristo, por outro lado, permite ser chagado e morre para remir o mundo (Mt 26,28), tomando sobre si os pecados da humanidade (Is 53,4-8), ainda que ele não tivesse mácula (1Pd 1,19).

Marcas

Enquanto é sinônimo de morte no mundo de Berserk, o sangue representa vida para os cristãos. No início do sacrifício, no episódio 12, todos os membros do bando de Griffith são feridos com a marca que representa seu destino à morte e ao alimento de demônios. Ela sempre sangra com a aproximação dos espíritos maus e atrai ainda mais inimigos.

Por outro lado, na Páscoa judaica – a primeira Páscoa para os cristãos -, o sangue nas portas dos judeus é um sinal que indica as casas às quais o Senhor não deve levar a morte para seus primogênitos (Ex 12,7.13-14).

Da mesma forma, Cristo afirma que seu sangue e sua carne são vida eterna para aqueles que nele creem, pois é pelo Pai que ele vive e por ele viverão seus discípulos (Jo 6,53-57).

Medo x vontade

Ao deparar-se com sua própria consciência – ou com o que resta dela -, Griffith aterroriza-se e pensa em se arrepender. No entanto, fazendo sua própria vontade calculista e egocêntrica, ele segue com seu plano.

Igualmente, com a aproximação de sua Paixão, Cristo - que sabia desde o princípio para que veio - sente pavor – em sua condição humana – e pede ao criador que, se possível, mude seu destino e sua missão, a menos que essa não seja a vontade do Pai (Lc 22,42).

Cristo orando no horto
Divulgação / Rumo à Santidade
Ciente de que o desejo divino e o desejo humano – coexistentes dentro de si – não coincidiam, ele segue firme e obediente a seu projeto original (Hb 5,8-9).

Resultados

Tanto para Griffith quanto para Cristo, os frutos dos sacrifícios são gloriosos e correspondem ao que esperam.

Contudo, os efeitos colaterais do sonho de Griffith são incontáveis. A maior parte dos resultados nefastos que o sacrifício acarreta, por incrível que pareça, não é revelada na Idade de Ouro. No entanto, ela nos dá uma prévia da aceleração que a atuação do mal ganha no mundo.

Ao questionar aos demônios se Griffith daria a vida de seus aliados em troca de tornar-se “um monstro”, ele recebe uma resposta quase afirmativa, um “mais ou menos”. A verdade é que o monstro que já habitava Griffith apenas sairia de sua personalidade camuflada, dominaria suas ações e ganharia forma física.

Cristo, em contrapartida, após todo o sofrimento que culmina em sua morte, ressuscita, ascende aos céus e seu nome fica gravado na História, inspirando bilhões de pessoas ao redor do mundo a dedicarem sua vida ao seguimento do Deus que é Amor, consoante ao que previam as escrituras (cf. Is 52,13-15;53,10-11).

Ascensão de Jesus Cristo
Divulgação / Prof. Felipe Aquino (Canção Nova)

Onde posso assistir ao anime?

Nesse canal do Telegram, vocês conseguem o anime e otras cositas más.

Conclusão

Chegamos ao fim do post. Mas antes de sair, responde essas perguntinhas:

• Já viu algo de Berserk? Curte?

• Se não viu, ficou interessado(a)?

• Gostou dessa publicação?

• Tem algum comentário para agregar aos meus devaneios?

• Que outra obra você considera interessante para analisarmos?

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sábado, fevereiro 11, 2023

Boran Genco: entre progresso e tradição

    Boas vindas!

Oi, gente!

Bem-vindos(as) ao primeiro post do blog!    

A primeira obra sobre a qual decidi tratar infelizmente não é muito conhecida. Afinal, há uma febre por séries e filmes americanos e europeus, animes e doramas, mas as novelas turcas ainda não são tão populares, desafortunadamente. A verdade é que elas têm muito a oferecer, além do conhecimento de uma diferente cultura. Seus enredos trazem, também, lições valiosas de humanidade.

Sem mais delongas, quero falar sobre a série Sila (assista aqui), mais especificamente de seu personagem Boran Genco. Talvez isso lhes pareça estranho, já que lhes disse, na apresentação do blog, que sou cristã católica e a série reflete predominantemente uma parte da religião islâmica.

No entanto, enquanto estudante de humanas, sei a importância de mantermos nossa mente aberta para aprender com as mais variadas e controversas formas de vida. Assim, em meio a tantos conteúdos artísticos efetivamente anticristãos e/ou vazios de sentido, Sila é tão profunda e sensível que não permite que seu espectador seja o mesmo depois de assistir-lhe.

É possível, inclusive, que eu faça mais de um post para falar dessa série, apresentada, no Brasil, como novela da Band.

Obs.: não se preocupem, pois não haverá grandes spoilers. No máximo, trarei pequenas citações com o intuito de motivá-los(as) a conferir a série na íntegra, mas podem ler sem susto!

Sinopse

Para quem não conhece coisa alguma sobre essa história ficcional, deixo uma breve sinopse de minha autoria:

Sila foi vendida ainda pequena por seu pai (Celil) a uma família rica de Istambul, crescendo cercada de luxo. No fim de sua adolescência, ela é persuadida por Celil a acompanhá-lo a sua terra natal para conhecer sua família biológica. O motivo real, porém, é um casamento arranjado da moça com Boran, líder do clã, como pagamento por uma dívida de sangue, conforme manda a tradição local.

Para mais informações, podem visitar essa sinopse extraída da Wikipédia.

O agha Boran Genco e seu equilíbrio

Foto do próprio Boran
Foto: Divulgação / Tudo & Todas

Agora, vamos finalmente ao homem: a beleza exótica do polêmico ator Mehmet Akif Alakurt é o primeiro atrativo do personagem, mas não é sua característica mais importante. O que mais me atrai no líder mardiniano é seu equilíbrio.

Isso porque ele cresceu numa tribo de costumes antiquíssimos e frequentemente injustos - inclusive com ele mesmo, apesar de seu status de soberania -, mas teve a oportunidade de ser universitário na capital turca (Ancara) e de trabalhar em Istambul, a principal cidade do país, situada na parte europeia do território nacional.

Desse modo, Boran conseguiu o privilégio de conhecer dois lados opostos da mesma moeda - duas realidades contrárias em um mesmo país – e, diferentemente da atitude que, com tristeza, podemos perceber por parte da maioria das pessoas que se encontram em situações similares, Boran não elegeu um dos lados com a consequente anulação do outro.

Pelo contrário: ele soube filtrar o que havia de belo e essencial em cada uma das lentes pelas quais se orientavam as pessoas de seu convívio.

A ponte

É por essa razão que o chefe da tribo tem um importante papel de ponte em sua família, entre seus pais - extremamente tradicionais e fechados em seus costumes - e sua esposa - moderna e progressista, mas igualmente intransigente.

Ele reconhece que mudanças são imprescindíveis no estilo de vida de seu povo, já que a inflexibilidade mecânica das regras do clã interfere negativamente no destino de pessoas inocentes, mas ele também compreende que as tradições são basilares para a conservação de qualquer sociedade.

De fato, na visão do patriarca, os transtornos causados pelo cumprimento das leis refletem antes uma leitura inadequada dos preceitos religiosos que um erro dos próprios princípios.

Dessa forma, ele rejeita a máxima modernista de “destruir para reconstruir”, assumindo a necessidade de cautela durante o processo de uma transformação tão radical, ao mesmo tempo que se nega a compactuar com as atrocidades que ocorrem ao seu redor.

O racionalismo em pessoa

Boran é, nesse sentido, igualmente um exemplo de racionalismo, visto que, por vezes, ele se mostra frio e impassível diante de situações aterradoras para que possa contorná-las de forma sorrateira e eficaz.

Ao longo da série, o telespectador aprende, junto com Sila e por intermédio de Boran e das situações difíceis que o casal enfrenta, que a impulsividade e o sentimentalismo podem acarretar consequências inesperadas e problemas cujas resoluções são mais árduas de atingirem-se do que aquelas correspondentes às dificuldades anteriores.

Entre o progresso e a tradição

Enfim, Boran, ao contrapesar os atrasos e as antecipações de seus parentes, comprova uma declaração muito sagaz de G. K. Chesterton, feita no artigo As tolices dos nossos partidos:

“Todo o mundo moderno está dividido entre conservadores e progressistas. O papel dos progressistas é continuar cometendo erros. O papel dos conservadores é evitar que os erros sejam corrigidos. [...] Portanto, temos dois grandes tipos de pessoas: a avançada que se precipita para a ruína, e a retrospectiva que aprecia as ruínas”.

Ele ainda é humano

Boran é, com efeito, um grande mentor. Porém, ele ainda é humano. Por isso, ele também erra.

Contudo, até mesmo em seus momentos de fraqueza, o chefe Genco tem algo a ensinar para seus atentos observadores, tendo em vista que seus dois grandes erros acontecem justamente porque ele põe suas emoções acima de sua razão pragmática costumeira: em um deles, ele age por impulso e, no outro, ele fica em choque e sem reação.

Ainda assim, toda a trajetória do personagem serve para redimi-lo de suas faltas, concedendo-lhe, ao meu ver, a maior redenção quando o comparamos aos seus companheiros de jornada.

Convite

Portanto, fica registrado meu convite para que vocês se surpreendam com essa tensa e intensa obra oriental. Apesar de todo o suspense decorrente das questões sociais e psicológicas dos personagens, vocês terão uma magnífica fonte de sorrisos também, pois a narrativa dosa com maestria os momentos de tensão com romances, ceninhas fofas e interações engraçadas das famílias Genco e Sönmez.

Essa produção vem do outro lado do mundo e já tem 17 anos, mas trata de aspectos universais da vida humana e creio que continuará a atualizar-se e a encontrar apreciadores ao redor do planeta enquanto durar nossa espécie.

Ah, já que você chegou até aqui, conta pra mim:

  • Você já assistiu à novela? Se sim, o que achou?
  • Se você não assistiu ainda, ficou curioso(a) para assistir?
  • Que outro conteúdo (novela, série, filme, anime, dorama, conto, livro, etc.) você acredita que foi uma importante fonte de crescimento para você e gostaria de uma abordagem aqui no blog?
Ei, se você curtiu o post, não esquece de compartilhar e comentar para que ele possa chegar a mais pessoas! 💙

E fica atento(a) às próximas publicações, que ocorrerão sempre aos sábados, às 19:00.

Post scriptum

Há coisas que nos acontecem e que não entendemos num primeiro momento, mas fazem sentido depois. Chamem a isso destino ou Deus; só não digam que não existe!
Gente, esse post era pra ter saído na semana passada; porém, tive alguns probleminhas com o uso do Blogger e, simplesmente, a publicação não se realizou no horário correto, por isso adiei para hoje, precisamente logo após os terríveis terremotos ocorridos na Turquia e na Síria.
Estou chocada com a coincidência e aproveito para pedir a cada leitor que envie àquele território suas melhores energias, suas orações e, se possível, sua caridade material. Turcos e sírios precisam de toda a solidariedade possível nesse momento difícil e desesperador, quase insuportável.